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29 de dezembro de 2009

COLITE ULCERATIVA

A colite ulcerativa é uma doença inflamatória intestinal de patogenia multifatorial (envolvendo disfunção imunológica, fatores ambientais e genéticos) geralmente limitada ao reto e ao cólon (retocolite), podendo afetar o apêndice cecal e o íleo terminal se envolver o cólon inteiro. Afeta a mucosa e a submucosa, raramente se aprofundando nos casos mais graves. Estipula-se que exista uma resposta imunológica ao conteúdo luminal, acarretando na liberação de citocinas que desencadeiam o processo inflamatório. Outros fatores que podem exercer um papel na doença são: agente etiológico infeccioso não definido, fumo, integridade da barreira de células epiteliais intestinais e fatores psicossociais.

A doença inicia-se usualmente entre 20 e 25 anos. Seus principais sintomas são diarréia, sangramento retal, tenesmo, eliminação de muco e dor abdominal em cólica. Até 33% dos pacientes com doença inflamatória intestinal apresentam pelo menos uma manifestação extra-intestinal como eritema nodoso, espondilite ancilosante, uveíte anterior, massa óssea baixa, distúrbios tromboembólicos.

MACROSCOPIA
A lesão da colite ulcerativa se inicia no reto e vai se extendendo ao cólon continuamente, em sentido proximal. Algumas áreas de mucosa em meio à lesão podem estar aparentemente normais, porém biópsias dessas áreas geralmente revelam alterações. A mucosa na colite ulcerativa pode estar eritematosa e discretamente granulosa em casos leves ou ulcerada e hemorrágica nos casos graves.

Colite ulcerativa. Referência: http://www.pathology.pitt.edu/lectures/gi/colon-b/07.htm

A mucosa em regeneração pode formar ilhotas em meio a áreas lesadas, formando pseudopólipos.

Pseudopólipos em colite ulcerativa. Referência: http://library.med.utah.edu/WebPath/GIHTML/GI072.html

Com a cronificação da doença, o processo de cicatrização e a atrofia progressiva de mucosa levam a um achatamento e apagamento das pregas de superfície. Em casos graves de colite ulcerativa, pode haver lesão da camada muscular e dos plexos neurais, comprometendo a função neuromuscular, levando à dilatação colônica e à gangrena, gerando o quadro de megacólon tóxico, que pode evoluir para perfuração.

Megacólon tóxico. Referência: http://www.pathology.pitt.edu/lectures/gi/colon-a/10.htm

MICROSCOPIA
Primeiramente há um infiltrado inflamatório difuso, predominantemente mononuclear, na lâmina própria. Um infiltrado neutrofílico na camada epitelial leva a um extravasamento desses neutrófilos na luz das criptas intestinais, desenvolve-se então uma criptite, que evolui para abscesso da cripta (não específicos da colite ulcerativa). Há também depleção de células caliciformes.

Infiltrado inflamatório e erosão da mucosa. Referência: http://library.med.utah.edu/WebPath/GIHTML/GI073.html

Abscessos das criptas e depleção de células caliciformes. Referência: http://library.med.utah.edu/WebPath/GIHTML/GI184.html

Abscessos das criptas degeneram o epitélio glandular e comprometem a submucosa, podendo formas também "lesões em túnel", chegando a expor a camada muscular à luz do órgão e formando os pseudopólipos. Com o processo de cicatrização, surge tecido de granulação, que se mostra congesto.

Referência: http://anatpat.unicamp.br/lamtgi5.html

Diferente da Doença de Crohn, geralmente não há formação de granuloma na colite ulcerativa. Deve-se avaliar o grau (baixo ou alto) de displasia das células epiteliais. Complicações comuns são lesões displásicas em placa, displasia polipóide franca ou carcinoma invasivo.

GENÉTICA
Associações gênicas específicas não foram definidas. Alguns loci estão associados tanto à Doença de Crohn quanto à colite ulcerativa, sugerindo uma superposição na patogenia. Loci replicados nos cromossomos 12p, 19p e 1p (receptor de IL-23) estão relacionados à colite ulcerativa.

PROGNÓSTICO

O prognóstico do paciente com colite ulcerativa é afetado pela gravidade da doença ativa e por sua duração. Cerca de 97% dos pacientes tem uma recidiva num período de 10 anos, e 30% dos pacientes vão precisar de colectomia nos primeiros 3 anos a partir da manifestação incontrolável da doença. O câncer constitui a complicação mais temida. O risco de câncer aumenta com o tempo de doença (2,5% aos 20 anos de doença, 7,6% aos 30, 10,8% aos 40).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Robbins & Cotran; Patologia: Bases Patológicas das Doenças; 7ª Edição, 2005
2. Harrison; Medicina Interna; 17ª Edição, 2008
3. http://www.pathology.pitt.edu/lectures/gi/colon-b/07.htm

4. http://library.med.utah.edu/WebPath/GIHTML/GI072.html
5. http://www.pathology.pitt.edu/lectures/gi/colon-a/10.htm

6. http://library.med.utah.edu/WebPath/GIHTML/GI073.html
7. http://library.med.utah.edu/WebPath/GIHTML/GI184.html
8. http://anatpat.unicamp.br/lamtgi5.html

Rafael Machado Mendes
Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Ceará
Integrante da Liga de Patologia da UFC

11 de dezembro de 2009

LIPOSSARCOMA

O lipossarcoma é um dos tumores do tecido adiposo. Portanto, está inserido dentro do grupo dos Tumores de Partes Moles ou de Tecidos Moles (músculo, gordura, tecido fibroso, vasos e nervos). A freqüência desses tumores na população em geral é subestimada, já que a maioria das lesões benignas não são extirpadas. O lipossarcoma talvez seja o segundo ou terceiro sarcoma mais comun de partes moles.

Os lipossarcomas são tumores relativamente comuns no adulto e acometem indivíduos entre 40 e 70 anos de idade com predominância pelo sexo masculino. Geralmente, eles surgem em partes moles das extremidades proximais e do retroperitônio, se manifestando como grandes massas de crescimento lento e indolor. Veja a ressonância magnética abaixo e observe a massa na parte súpero-medial da coxa direita de um indivíduo do sexo masculino com 50 anos de idade.


MACROSCOPIA

O lipossarcoma se apresenta como uma grande massa tumoral, amarelada, que pode apresentar uma cápsula ou pseudocápsula como representado na figura abaixo. Esses tumores podem metastizar para pulmões e fígado.

Lipossarcoma excisado da coxa direita de um paciente do sexo masculino com 42 anos de idade. Observe a cápsula de aspecto brancacento (Seta Amarela) ao redor da massa amarelada. Tecido muscular (Seta Branca), de cor pardacenta, também pode ser visto na periferia do tumor.

Referência: http://www.imagingpathways.health.wa.gov.au/includes/images/softmass/liposarcoma_macro.jpg

Referência: www.nature.com/.../v14/n3/fig_tab/3880280f1.htm

MICROSCOPIA
Esse tumor pode ser dividido em três variantes histológicas: bem diferenciado, mixóide e de células arredondadas e pleomórficas. As células da variante bem diferenciada são denominadas de lipócitos. Enquanto que as outras variantes não apresentam células evidentemente adiposas. Contudo, elas apresentam com muita freqüência células denominadas lipoblastos, que são símiles aos adipócitos fetais e que possuem vacúolos citoplasmáticos arredondados e claros de lipídios, que derformam o núcleo.

Variante Bem Diferenciada. Observe os lipócitos. Referência: genome-www.stanford.edu/sarcoma/histology.html


Variante Mixóide. Referência: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Myxoid_liposarcoma_%2805%29.JPG

Variante Mixóide (Maior Aumento). Referência: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Myxoid_liposarcoma_%2806%29.JPG

Variante Mixóide com coloração PAS. Referência: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Myxoid_liposarcoma_%2804%29_AB-PAS.jpg

Variante de Células Redondas e Pleomórficas. Referência: http://www.nature.com/modpathol/journal/v14/n3/fig_tab/3880280f2.html

IMUNOISTOQUÍMICA
Alguns lipossarcomas são marcados por algumas colorações imunoistoquímicas. Entre estes marcadores podemos destacar a vimentina e o S-100.


PLOIDIA DO TUMOR
Quanto mais próximas da aneuploidia, as células de um tumor apresentam um padrão mais infiltrativo. Estudos indicam que os lipossarcomas aneuplóides apresentam maior malignidade do que os diplóides.

CITOGENÉTICA E GENÉTICA

Apesar de não ser uma constante nos lipossarcomas, duas variantes histológicas deste tumor (mixóide e de células redondas) possuem anormalidades cromossomiais (citogenética) e genéticas: 1. Citogenética: translocação entre os cromossomos 12 e 16, e entre o 11 e 13 / 2. Genética: Gene de Fusão CHOP/TLS.

PROGNÓSTICO
O prognóstico dos lipossarcomas é dado pela análise de quatro parâmetros de classificação histológica, assim como o de qualquer sarcoma: imunoistoquímica, microscopia eletrônica, citogenética e genética molacular. Além disso, o grau do sarcoma fará uma estimativa do comportamento do tumor. Os lipossarcomas bem diferenciados possuem baixo grau, os mixóides têm um grau intermediário e os de células redondas e pleomórficas são geralmente agressivos e dão metástases freqüentes. Contudo, todos os tipos têm alto grau de recidiva local, devendo ser totalmente retirados para se evitar as recorrências.

Bruno Roberto da Silva Ferreira
Acadêmico de Medicina
Universidade Federal do Ceará


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS





Integração Anátomo-Clínica

Aqui, irémos expor diversos casos de enfermarias com enfoque clínico-patológico, principalmente através de estudos de biópsias e outros métodos complementares de diagnóstico, como a endoscopia digestiva.

Patologia Sistêmica

Os tópicos dessa sessão serão ilustrados por inúmeros casos de Patologias dos Órgãos e Sistemas.

Patologia Geral

Na sessão Patologia Geral serão abordados os mais variados temas relacionados aos processsos patoloógicos gerais, como os mecanismos de lesão celular, as adaptações celulares , a carcinogênese, os distúrbios vasculares gerais e as principais nuances dos processos inflamatórios.

Introdução à Patologia

Etimologicamente, a palavra Patologia vem do grego pathos, que significa sofrimento. Dessa maneira, significa estudo do sofrimento. Didaticamente, a Patologia é dividida em Patologia Geral e Patologia Sistêmica. A primeira relaciona-se às alterações celulares e teciduais decorrentes de um estímulo anormal do meio ambiente, de modo que a segunda aborda a repercussão desses estímulos nos diversos órgãos e sistemas do organismo.

Funcionamento do Blog

O blog da Liga de Patologia da UFC será "alimentado" por postagens de seus integrantes. Estes tópicos serão relacionados a casos da prática diária dos Serviços de Patologia da Faculdade de Medicina (UFC) e do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), através da exposição de textos e de fotos de peças anatômicas. Esses posts serão focados nas Bases Morfológicas das Doenças, abordando temas como os mecanismos de lesão celular, os padrões morfológicos da inflamação, os tipos de cicatrização e fibrose e as mais variadas doenças dos sistemas e órgãos.

Integrantes da Liga de Patologia:
1. Bruno Roberto da Silva Ferreira
2. Maria Amélia Dantas Gadelha
3. Rafael Machado Mendes
4. Renato Rodrigues Viana
5. Rodrigo de Freitas Guimarães Lobato

Orientador da Liga de Patologia:
Prof. Dalgimar Beserra de Menezes

Co-Orientadores da Liga de Patologia:
Prof. José Telmo Valença Júnior
Prof. Roberto Wagner Bezerra de Araújo