A Esofagite Necrosante Aguda (ENA) é uma
entidade pouco conhecida e com poucos relatos de casos, com os primeiros
datando de 1990 (Goldenberg).
A frequência de
achados:
-em necropsias -
situa-se entre 0% e 10,3%;
-em endoscopias -
situa-se entre 0,1% e 0,28%.
Características macroscópicas
•Pigmentação
escura difusa no esôfago, com ulcerações;
•Esôfago negro circunferencial, comprometimento distal
com extensão proximal;
•Linha bem demarcada entre as lesões esofágicas
e a mucosa gástrica, apresentando-se esta sem alterações.
Figura 1: Imagem de endoscópica de um caso de esofagite necrotizante aguda.
Figura 2: Imagem de um achado de necrópsia do Departamento de Patologia e Medicina Legal da UFC (DPML).
Etiologia
A etiologia ainda é
desconhecida, mas acredita-se ser multicausal. Dentre as causas mais prováveis
encontramos:
ØIsquemia;
ØAção dos anti-inflamatórios não esteróides (AINE), Yasuda et al.;
ØAgentes infecciosos (Lactobacillus acidophilus, Penicillium crysogenum, Actnomyces, Herpes simplex);
ØFator nutricional, Moneto et al..
Diagnóstico
O
diagnóstico estabelece-se por endoscopia digestiva alta complementada com
exames histológicos.
Na endoscopia,
nota-se a clara coloração negra, com mucosa friável e hemorrágica. Há uma clara
transição entre a mucosa esofágica e a mucosa gástrica normal a nível de linha
Z.
No estudo
histológico, nota-se a necrose da mucose e/ou da submucosa, podendo-se observar ocasionalmente
vasos trombosados.
Figura 3: Imagem endoscópica. Note o maior comprometimento da região distal do esôfago.
Figura 4: Outra imagem do mesmo achado de necrópsia do DPML.Note a clara delimitação, à nível de linha Z, entre o tecido esofágico necrótico e o tecido estomacal saudável.
Figura 5: Imagem de microscopia óptica evidenciando o comprometimento das camadas mucosa e sub-mucosa do epitélio esofágico.
Figura 6: Imagem de microscopia óptica do mesmo achado de necrópsia do DMPL. Note a extensa área de necrose a nível de mucosa.
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial deve ser feito com outras causas de hiperpigmentação da mucosa esofágica. Dentre as possibilidades encontramos:
- Melanoma esofágico;
- Melanose ou pseudo-melanose esafágica;
- Acantose nigrians.
Prognóstico
É reportado na
literatura uma mortalidade entre 33 e 50%. A complicação mais frequente no período
pós-doença relaciona-se com ocorrência de estenose esofágica, com uma
prevalência de 15% nos doentes com esta entidade.
Conclusão
Pode-se dizer que se
trata de uma entidade rara, de etiologia ainda desconhecida. Em muitos casos
parece estar associada ao mau estado geral dos doentes.
A endoscopia, juntamente com o exame
histológico são as ferramentas de diagnóstico.
Tratamento consiste em hidratação, inanição,
inibição ácida e, nos doentes sépticos, antibioterapia de amplo espectro.
Referências
Robbins & Cotran; PATOLOGIA: BASES PATOLÓGICAS DAS DOENÇAS; 8ª Edição, 2010. Ed. Elsevier;
S. FERREIRA, I. CLARO, R. SOUSA, E. VITORINO, P. LAGE, P. CHAVES, A. FERNANDES, C. NOBRE LEITÃO. Esôfago negro associado a infecção por Candida albicans, Aspergillus e Actinomyces. GE - J Port Gastrenterol 2007, 14: 143-146;
R. RAMOS, J. MASCARENHAS, P. DUARTE, C. VICENTE, C. CASTELEIRO. Esofagite necrosante aguda: Relato de dois casos. Revisão de literatura. GE - J Port Gastrenterol 2009, 16: 244-247.
River de Alencar Bandeira Coêlho
Universidade Federal do Ceará