23 de janeiro de 2011

TUMOR DE WILMS

DEFINIÇÃO
É um tumor maligno que se desenvolve no período da lactância e da infância no(s) rim(ns). Difere dos tumores renais primários que surgem na idade mais avançada quanto ao desenvolvimento e à histologia. Algumas dessas diferenças devem-se à incidência; ao tipo de tumor; à sua relação entre a teratogênese (desenvolvimento anormal) e a oncogênese; e ao grande número de pacientes que apresentam aberrações familiares ou genéticas subjacentes.
O desenvolvimento do tumor de Wilms apresenta aspectos relevantes dos tumores infantis, ou seja, apresentam relação entre as malformações e as neoplasias e entre a organogênese e a oncogênese. Esse tipo de doença avenca possibilidades para as modalidades de tratamento criterioso, afetando o prognóstico e o resultado (ler “PROGNÓSTICO”).

EPIDEMIOLOGIA
Segundo o INCA (Instituto Nacional do Câncer), os tumores renais representam cerca de 5% a 10% de todas as neoplasias infantis, sendo que o mais frequente, cerca de 95%, é tumor de Wilms. Nos Estados Unidos, 1 em cada 10 000 crianças são acometidas pelo tumor. O pico de incidência ocorre entre 2 e 5 anos e pelo menos 95% ocorrem antes dos 10 anos de idade.
De 5 a 10% dos pacientes com tumor de Wilms apreseenta ambos os rins acometidos, o que ocorre de maneira sincrônica (ou seja, concomitantemente) ou metacrônica (em períodos diferentes). Quando há o desenvolvimento do tumor nos dois rins, estes surgem em média 10 meses mais cedo do que nos pacientes em que apenas um rim é afetado.

CLÍNICA
O diagnóstico de tumor de Wilms pode ser retardado pela capacidade que a tumoração tem de crescer sem causar dor, e a criança pode parecer saudável. No entanto, uma massa abdominal grande passa a ser visualizada, uni ou bilateral, e que pode ultrapassar a linha média e seguir abaixo da pelve. Alguns outros sintomas podem surgir no paciente com tumor, como hematúria, hipertensão, obstrução intestinal e dor abdominal após um traumatismo local. Uma parcela significativa dos pacientes, quando diagnosticados, já apresentam metástases pulmonares.

MACROSCOPIA
Consiste em uma massa grande e bem circunscrita. Ao corte, apresenta superfície mole e homogênea, de coloração parda a cinzenta, com focos ocasionais de hemorragia, necrose e/ou formações císticas.
São visualizadas áreas de hemorragia.
Fonte: http://www.health.act.gov.au/c/health?a=da&did=11011282&pid=-5753243
MICROSCOPIA
Visualmente caracterizam-se por “uma tentativa de recapitular diferentes estágios da nefrogênese”. Assim, são observadas as três fases clássicas do desenvolvimento renal, que são: blastêmica, estromal e epitelial. As células estromais são de natureza cística ou fibróide. A porcentagem de cada componente é variável.
Há o desenvolvimento de túbulos e glomérulos renais abortivos. Outros elementos heterólogos são raramente observados, e incluem músculo liso, epitélio mucinoso, epitélio escamoso, tecido osteóide ou cartilaginoso, tecido adiposo e tecid neurogênico.
Quando há a apresentação microscópica de anaplasia, considera-se que haja uma mutação no p53, sendo um tumor marcadamente resistente à quimioterapia. São caracterizadas por células grandes, hipercromáticas, com mitoses anormais e núcleos pleomórficos.
Fonte: http://www.pathologyoutlines.com/images/kidney/1_055.JPG
Microscopia: característica anaplásica de um tumor de Wilms.
Observam-se células grandes e pleomorfismo.
Fonte: http://webpathology.com/image.asp?n=4&Case=73
IMUNOISTOQUÍMICA
Positivo: blastema - desmina, WT1. Não positiva para marcadores musculares. Vimentina focal
Há uma expressão nuclear de SMARCB1/INI1, confirmando o diagnóstico de Tumor de Wilms
Fonte: http://www.nature.com/modpathol/journal/v19/n5/fig_tab/3800581f4.html#figure-title
ESTADIAMENTO
Segundo o National Wilms Tumor Study Group, o estadiamento consiste em 5 estágios, como é apresentado no quadro que segue:

PLOIDIA, CITOGENÉTICA E GENÉTICA
Alguns grupos de malformações congênitas e mutações cromossomiais estão envolvidos na gênese do tumor de Wilms. Dentre elas, destacamos:
1. Síndome WAGR: aniridia (ausência da íris) + anomalias genitais + retardo mental
Essa síndrome constitui em 33% de chance de desenvolver o tumor. Portadores de deleções (germinativas) constitucionais do 11p13 estão relacionados à síndrome e a esse risco aumentado. Associado a essas alterações estão os genes WT1 e PAX6 (gene dominante autossômico deletado contiguamente à aniridia). Quando o paciente apresenta alteração em PAX6 e não em WT1 não há risco aumentado para o desenvolvimento do tumor. Quando há a mutação de WT1, é necessa´rio que haja uma segunda mutação (sem sentido ou frameshift) no alelo para tumor de Wilms.
2. Síndrome de Denys-Drash: disgenesia genital (pseudo-hermafroditismo masculino) + nefropatia de aparecimento precoce (levando à insuficiência renal)
Esses pacientes também apresentam anomalias no gene WT1 que aumentam em aproximadamente 90% o risco de desenvolver o tumor de Wilms. Contudo, as alterações no WT1 consistem em mutação negativa dominante de sentido errôneo na região zinc-finger do gene, afetando a ligação do DNA. O surgimento do tumor indica a mutação bialélica de WT1 na síndrome.
3. Síndrome de Beckwith-Wiedmann: organomegalia (aumento dos órgãos) + macroglossia + hemi-hipertrofia + onfalocele + citomegalia adrenal (células grandes anormais no córtex da adrenal)
3.a) A região cromossômica envolvida foi localizada na banda 11p15.5 (WT2), distal ao lócus WT1. Há um risco aumentado no desenvolvimento do tumor se for heterogêneo, sendo a tumorigênese influenciada pelas anomalias do imprinting (transcrição silenciosa) de WT2.
3.b) A mutação no regulador do ciclo celular (CKDN1C ou p57 ou KIP2) pode levar os portadores da síndrome de Beckwith-Wiedmann a desenvolver o tumor de Wilms. Quando comparado aos pacientes com mutação no WT2, possuem risco menor de desenvolvimento do tumor.
4. Mutações por ganho de função do gene que codifica a β-catenina tem sido mostrada em aproximadamente 10% dos tumores de Wilms esporádicos. A β-catenina pertence a via de sinalização “wingless” (WNT).

PROGNÓSTICO
Houve um importante aumento na taxa de cura para tumor de Wilms, sendo considerado um dos maiores sucessos da oncologia pediátrica. Em poucas décadas a taxa saltou de 30% para os atuais 85% de cura. A histologia anaplásica confere um risco aumentado para recorrência e morte. A perda do material genético dos cromossomos 11q e 16q e o ganho do material no cromossomo 1q – nas células tumorais – representam um prognóstico também desfavorável.
Especula-se que haja um risco relativamente elevado para o desenvolvimento de outros cânceres (primérios), como ósteossarcoma, câncer de mama e leucemia., podendo estar relacionado tanto a uma predisposição de caráter genético quanto ao próprio tratamento contra o tumor de Wilms.
Outras características tornam o prognóstico reservado, como: tumor de grande tamanho, idade do paciente maior que 2 anos e diagnóstico em estágio avançado da doença.

REFERÊNCIAS
1. Robbins & Cotran; Patologia: Bases Patológicas das Doenças; 8ª Edição, 2009
2. http://www1.inca.gov.br/estimativa/2010/index.asp?link=conteudo_view.asp&ID=5
3. http://www.pathologyoutlines.com/kidneytumor.html#wilmkids
4. http://www.hcanc.org.br/index.php?idTipoCancer=26&page=14

Audinne Ferreira e Silva
Acadêmica de Medicina
Liga de Patologia
Universidade Federal do Ceará

13 de janeiro de 2011

ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA (ELA)

DEFINIÇÃO
Quando há uma degeneração dos neurônios motores (inferiores da medula e do tronco encefálico e superiores que se projetam nos tratos corticoespinais), os estímulos para os músculos por eles inervados não são efetivados, levando a uma fraqueza muscular secundária.

EPIDEMIOLOGIA
É uma doença rara e, segunda a SAS/MS (Secretaria de Atenção à Saúde / Ministério da Saúde), a incidência estimada é de 1 a 2,5 indivíduos portadores para cada 100.000
habitantes/ano, com uma prevalência de 2,5 a 8,5 por 100.000 habitantes.
Pesquisas afirmam que a doença ocorre mais em homens e pessoas da raça branca, além de pessoas com mais de 50 anos.
Há um grupo que apresenta padrão familiar, de modo que 5-10% dos casos totais são familiais, sendo a maior parte das vezes com herança dominante.
Alguns grupos de risco podem ser destacados, sendo eles: pertencer ao sexo masculino, desempenhar atividade física intensa, ter sofrido algum tipo de trauma mecânico.

CLÍNICA
O primeiro sintoma é a fraqueza muscular das mãos. A fraqueza caracteriza-se por ser progressiva e começar nas extremidades. Normalmente acomete apenas um lado do corpo.
Os músculos (ou grupos musculares) que deixaram de ser inervados passam a sofrer atrofia por falta de estimulação nervosa. Além da fraqueza, outros sintomas podem ser apresentados, como: fasciculação (tremor dos músculos), reflexos exaltados, atrofia, espasticidade, diminuição da sensibilidade e cãibras.
Geralmente as manifestações de fraqueza iniciam-se nos membros superiores, eventualmente nos inferiores.
A ELA recebe denominações especiais conforme são afetados os neurônios, por exemplo:
  • atrofia muscular progressiva: quando o envolvimento do neurônio motor inferior predomina;
  • paralisia bulbar progressiva: quando há degeneração rápida dos núcleos motores dos nervos cranianos do tronco encefálico baixo

A clínica mais grave é apresentada quando há paralisia bulbar progressiva, atingindo a língua e a glote. O paciente deixa de falar e deglutir, dificultando a nutrição, o paciente perde peso rapidamente.
Outras manifestações clínicas ficam na dependência de quais neurônios são acometidos e quais músculos serão atingidos pela esclerose.


HISTÓRIA
Sir Charles Bell, anatomista e cirurgião britânico, retratou em meados de 1830 uma doença que causava paralisia progressiva dos membros e da língua. Porém, apenas em 1853 foi relatado o primeiro caso reconhecível de ELA: o de Prosper Laconte, dono de um circo francês. Em 1869, os médicos franceses Joffroy e Jean-Martin Charcot fizeram a descrição da doença, com suas características essenciais.
Em 1933, Dr. Brain introduziu o termo "doença do neurônio motor" (DNM) para todas essas doenças que resultavam no acometimento progressivo dos neurônios motores, aparentemente distintas. Seis anos depois, o Dr. Brain e o Dr. Walton consideraram DNM e ELA sinônimos.

Stephen Hawking, físico teórico e cosmólogo britânico,
consagrado cientista da atualidade, portador de ELA.
Fonte: Wikipédia

PATOGÊNESE
A patogenia da ELA ainda não é compreendida, apesar de descobertas inúmeras associações genéticas. A mutação da SOD1 (como será explicada mais adiante) sugeria que a doença possui ligação com uma deficiência na eliminação de radicais livres (função dessa enzima), porém as pesquisas não conseguiram provar essa hipótese. Atualmente, a explicação mais aceita é que a proteína SOD1 assume uma conformação anormal, o que desencadeia uma reação de lesão, danificando os neurônios motores. Células não-neuronais (como células da glia) também podem apresentar a mutação e contribuir para a doença. Alguns mecanismos podem contribuir para o desenvolvimento da ELA, como alterações no transporte axonal, aumento dos níveis de glutamato (que é tóxico em determinadas quantidades), anormalidades de neurofilamentos e agregação de outras proteínas do Sistema Nervoso.


MACROSCOPIA
As raízes espinhais anteriores são finas e, no cérebro, o giro precentral pode apresentar-se também atrófico (em casos graves).

As raizes atróficas correspondentes aos neurônios motores
podem ser observadas na medula acima.
Fonte: http://anatpat.unicamp.br/bineuela1.html



MICROSCOPIA
A microscopia da medula espinhal apresenta redução do número de neurônios do corno anterior, com perda das raízes mielinizadas anteriores e gliose reativa (é o indicador histopatológico mais importante de lesão do SNC, sendo caracterizada tanto pela hipertrofia quanto pela hiperplasia das células da glia). Achados semelhantes podem ser visualizados nos núcleos dos nervos cranianos hipoglosso, ambíguo e motor do trigêmeo. Em havendo degeneração dos neurônios motores superiores, é percebida perda de volume nos cortes histológicos dos tratos corticoespinais, bem como ausência de fibras mielinizadas.
Atrofia neurogênica pode ser visualizadas em fibras musculares que são inervadas pelos neurônios motores inferiores degradados.
Os neurônios remanescentes nas regiões afetadas (de portadores de ELA) frequentemente contém inclusões PAS-positivas (no citoplasma): são os corpúsculos de Bunina.

Atrofia de neurônios da medula espinhas, observados à direita.
Compare com o neurônio normal, visualizado no centro da porção esquerda da figura.
Fonte: http://anatpat.unicamp.br/bineuhistogeral.html
Gliose caracterizada por astrócitos fibróticos, observada como reação na ELA.
Fonte: http://anatpat.unicamp.br/bineuhistogeral.html
O corte histoçógico apresenta fibras musculares normais e atróficas,
mostrando a redução que estas apresentam devido a ausência de estímulo nervoso.
Fonte: http://anatpat.unicamp.br/bineuhistogeral.html

DIAGNÓSTICO
Os critérios de “El Escorial” estabelecem maneiras de se diagnosticar a doença, que são apresentadas no quadro que segue:


CITOGENÉTICA E GENÉTICA
Os casos familiais têm ¼ dos casos associados a mutação no gene que codifica a cobre-zinco superóxido dismutase (SOD1), localizado no cromossomo 21. Essa mutação confere uma rápida progressão à doença, mas não afeta comumente os neurônios superiores e é resultado da substituição de uma alanina por uma valina na posição 4. Outros “loci” foram rastreados, porém poucos foram relacionados à uma parcela tão grande como a mutação da SOD1.

PROGNÓSTICO
A doença evolui envolvendo os músculos respiratórios, o que favorece o desenvolvimento de infecções pulmonares e obriga o indivíduo a utilizar aparelhos para respiração mecânica.
Em geral, o prognóstico é de 3 a 4 anos de vida. Nos indivíduos com paralisia bulbar progressiva, que é uma forma mais agressiva, a média de sobrevida é de 1 a 2 anos.

REFERÊNCIAS
1. Robbins & Cotran; Patologia: Bases Patológicas das Doenças; 8ª Edição, 2009
2. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas – Esclerose Lateral Amiotrófica (SAS/MS): http://dtr2001.saude.gov.br/sas/dsra/protocolos/do_e16_01.pdf
3. http://www.tudosobreela.com.br


Audinne Ferreira e Silva
Acadêmica de Medicina
Liga de Patologia
Universidade Federal do Ceará

10 de janeiro de 2011

GASTROINTESTINAL STROMAL TUMORS (GISTs)

INTRODUÇÃO

Os GISTs são tumores raros. Respondem por 0,3% de todas neoplasias gastrointestinais e por 5,7% dos sarcomas. Em contrapartida, representam 80% dos tumores mesenquimais do trato gastrointestinal (TGI). Ocorrem, predominantemente, em indivíduos de meia idade (média em torno de 60 anos), sendo infreqüente a ocorrência em idades extremas. Podem ter origem em todo trato gastrointestinal, sendo mais comuns no estômago (70%), seguido pelo intestino delgado (20% a 30%), intestino grosso (10%) e outros locais da cavidade abdominal (5%).

Com o advento das técnicas de imunoistoquímica, está se conhecendo um pouco mais sobre os GISTs. Eles parecem se originar das células intersticiais de Cajal (controlam o peristaltismo do TGI). Aproximadamente 95% do GISTs se coram com anticorpos contra o c-KIT (coloração imunoistoquímica).

Atualmente, os GISTs vêm sendo classificados de acordo com o potencial de malignidade, sendo evitado o termo "benigno" para designar o tumor. A tabela abaixo dá uma dessa nova classificação:



MACROSCOPIA

As fotos abaixo são de um GIST com alto potencial de malginidade (maior que 10cm). Em geral, os tumores podem se projetar para a luz da víscera ou para o lado seroso da mesma. A superfície de corte se mostra brancacenta. Ela pode variar de macia a firme e, comumente, pode apresentar hemorragias, necrose ou formações císticas.


Figura 1 - GIST. Fonte: http://pathologyoutlines.com

Figura 2 - Visão endoscópica de um GIST do TGI. Fonte: http://pathologyoutlines.com


Figura 3 - GIST após excisão cirúrgica. Fonte: http://pathologyoutlines.com


Figura 4 - GIST: observe a relação íntima com a parede de uma porção de intestino. Fonte: Fotos do Acervo da Faculdade de Medicina da UFC.

Figura 5 - Superfície de corte do GIST mostrado acima. Observe as áreas de necrose e hemorragia. Fonte: Fotos do Acervo da Faculdade de Medicina da UFC.

MICROSCOPIA

O aspeto microscópico é de células fusiformes, de células epitelióides ou de uma mistura de ambas. A maioria dos tumores é muito celular e o índice mitótico é variável. A confirmação diagnóstica é feita por coloração imunoistoquímica, demonstrando positividade do c-KIT (CD 117).

Figura 6 - Corte histológico de um menor aumento de um GIST. Fonte: http://pathologyoutlines.com


Figura 7 - Maior aumento de um GIST. Fonte: http://pathologyoutlines.com

Figura 8 - Comparação de padrões histológicos de diferentes tumores estromais. Fonte: http://pathologyoutlines.com



Figura 9 - Positividade de c-KIT em GIST, confirmando o diagnóstico. Fonte: http://pathologyoutlines.com

DESAFIO...

De quem é a foto abaixo e qual a sua relação com os GISTs?



REFERÊNCIAS
1. Robbins & Cotran. Patologia: Bases Patológicas das Doenças. 2005. Editora Elsevier
2.
http://pathologyoutlines.com
3. http://www.sbcp.org.br/revista/nbr234/P244_255.htm


Bruno Roberto da Silva Ferreira
Acadêmico de Medicina - UFC
Liga de Patoogia




LEIOMIOMAS

INTRODUÇÃO

Os miomas (leiomiomas ou fibróides) uterinos são neoplasias benignas do útero presentes em aproximadamente 75% das mulheres em idade reprodutiva. 40% desses tumores apresentam algum tipo de alteração cromossômica. Os principais cromossomos envolvidos são o 7, o 12 e o 14.

MACROSCOPIA

Os fibróides têm um aspecto macroscópico cinza-esbranquiçado, como visualizado nas figuras. Aos cortes transversais, apresentam consistência firme e nítida delimitação, sendo geralmente arredondados.

Observa-se também um padrão espiralado (feixes de músculo liso) e nos miomas grandes podem aparecer áreas de amolecimento avermelhadas (degeneração vermelha).

Figura 1 - Fibróide uterino com degeneração vermelha. Fonte: http://pathologyoutlines.com/

Apesar de serem encontrados, na maioria das vezes, no corpo e no fundo do útero, podem estar presentes no istmo, no colo e nos ligamentos uterinos. Os leiomiomas uterinos podem estar em qualquer camada do útero, sendo classificados como intramurais (no miométrio), submucosos (logo abaixo do endométrio) e subserosos (embaixo da serosa).

Figura 2 - Esquema mostrando a distribuição dos fibróides no útero. Fonte: http://pathologyoutlines.com/

Figura 3 - Grande mioma submucoso. Fonte: http://pathologyoutlines.com/

Figura 4 - Miomas submucosos, subserosos e intramurais. Fonte: http://pathologyoutlines.com/


MICROSCOPIA

São visualizados feixes espiralados de células musculares lisas bem diferenciadas (padrão fusiforme), com núcleos ovalados e bem semelhantes às do miométrio normal. São raras as figuras de mitose. Existem variantes benignas dos leiomiomas: leiomioma atípico (simplástico) – possui atipia celular e células gigantes; e leiomioma celular. Ambos com baixo índice mitótico.

Figuras 5 e 6 - Cortes histológicos mostrando feixes de musculos lisos organizados, semelhantes ao miométrio normal, configurando o diagnóstico de leiomioma uterino. Fonte: http://pathologyoutlines.com/

CURIOSIDADE

E quem disse que tumores benignos não metastatizam? Existem duas variantes dos miomas muito raras: o leiomioma benigno metastatizante, que se propaga por via hematogênica principalmente para os pulmões e a leiomiomatose peritoneal disseminada, que se caracteriza por inúmeros nódulos no peritônio. Contudo, ambas são benignas.

REFERÊNCIAS

1. Robbins & Cotran. Patologia: Bases Patológicas das Doenças. 2005. Editora Elsevier
2. http://pathologyoutlines.com/
3. http://www.appai.org.br/jornal_educar/Jornal24/saude/utero.htm
4. http://kleky29rs.blogspot.com/2010/04/doencas-do-utero.html
5. http://www.unifesp.br/dmorfo/histologia/ensino/utero/irrigacao.htm


Bruno Roberto da Silva Ferreira
Acadêmico de Medicina - UFC
Liga de Patologia

DOENÇA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL (DTG)

INTRODUÇÃO

A Doença Trofoblástica Gestacional abrange um espectro de patologias associadas à gravidez. Didaticamente, podemos dividi-la em quatro modalidades:
• Mola hidatiforme (parcial ou completa)
• Mola invasiva
• Coriocarcinoma
• Tumor trofoblástico de sítio placentário

1 - MOLA HIDATIFORME

Essa afecção se caracteriza pela formação de cistos nas vilosidades coriônicas, além de proliferação trofoblástica variada. A mola tem potencial de evoluir para coriocarcinoma.
Em geral, a paciente se encontra entre o 4º e 5º mês de gravidez e procura a emergência com sangramento transvaginal e com o útero muitas vezes maior do que o esperado para a idade gestacional. A distribuição dessa patologia no grupo de grávidas é bimodal, sendo maior a incidência nas adolescentes e nas parturientes acima de 40 anos.
Histologicamente e citogeneticamente podemos classificar a mola hidatiforme em incompleta (parcial) ou completa (clássica):
1. Mola Parcial: somente algumas vilosidades estão edemaciadas e a proliferação trofoblástica é focal e mínima, limitada ao sinciciotrofoblasto. O cariótipo é triplóide e o embrião é viável, podendo ser visualizadas partes fetais.


Figura 1 - Mola Parcial: observe o embrião formado e a placenta com vesículas esparsas. Fonte: http://centrontg.org/informacionpacientes/pac2.html

Figura 2 - Corte histológico mostrando vilos normais e vilosidades hidrópicas, evidenciando uma mola parcial. Fonte: http://library.med.utah.edu/WebPath/PLACHTML/PLAC067.html

2. Mola Clássica: todas as vilosidades estão edemaciadas e a proliferação trofoblástica é difusa, tanto do sinciciotrofoblasto quanto do citotrofoblasto. O cariótipo é diplóide e não há desenvolvimento embrionário. Tem maior potencial de malignização.

Figura 3 - Mola clássica. Fonte: http://pathologyoutlines.com/placenta.html

Figura 4 - Corte histológico de mola clássica. Fonte: http://pathologyoutlines.com/placenta.html


2 - MOLA INVASIVA


É aquela que tem a capacidade de invadir e algumas vezes perfurar a parede uterina. Morfologicamente, há invasão do miométrio pelas vilosidades hidrópicas e proliferação trofoblástica difusa. A mola invasiva pode progredir e se disseminar localmente em paramétrios ou à distância, atingindo pulmões e fígado. Felizmente, esses implantes não se comportam como metástases verdadeiras.
A mola invasiva responde bem à quimioterapia, contudo sua evolução pode ser catastrófica, levando à perfuração uterina e conseqüentemente à histerectomia terapêutica.

Figura 5 - Aspecto macroscópico da mola invasiva. Fonte: http://www.paully.co.uk/hmole-chorio/site/medics_information_histopathology.html

Figura 6 - Corte histológico de mola invasiva. Veja as vilosidades corionicas invadindo a parede uterina. Fonte: http://www.paully.co.uk/hmole-chorio/site/medics_information_histopathology.html

3 - CORIOCARCINOMA

Neoplasia epitelial maligna de células trofoblásticas que se origina de qualquer forma de gravidez normal ou anormal. Trata-se de tumor altamente invasivo e gerador de muitas metástases, entretanto responde bem à quimioterapia.
É precedido por algumas condições como molas hidatiformes (50%), abortamentos prévios (25%), gravidezes normais (22%), quando é chamado de coriocarcinoma intraplacentário, e outras condições (3%), como gravidezes ectópicas e teratomas genitais e extragenitais.
Morfologicamente, o tumor é mole, carnoso e amarelado, com áreas císticas, necróticas e hemorrágicas. A histologia mostra uma neoplasia epitelial sem formação de vilosidades coriônicas e com proliferação anormal do citotrofoblasto e do sinciciotrofoblasto. Muitas vezes, há anaplasia e mitoses atípicas. Freqüentemente, o tumor metastiza para pulmões, fígado, cérebro e medula óssea, tendo desfecho fatal em muitos casos.

Figura 7 - Coriocarcinoma. Observe a invasão da parede uterina. Fonte: http://museum.med.monash.edu.au/spec/index.cfm?spec=S3U3

Figura 8 - Corte histológico de coricarcinoma mostrando necrose, hemorragia e invasão do miométrio. Não se observam vilosidades coriônicas. Fonte: http://pathologyoutlines.com/placenta.html

Figura 9 - Corte histológico em maior aumento mostrando o contraste entre as células do sinciciotrofoblasto (citoplasma bastante eosinofílico e muitos núcleos) e do citotrofoblasto (células individuais com citoplasma granular). Fonte: http://pathologyoutlines.com/placenta.html

4 - TUMOR TROFOBLÁSTICO DE SÍTIO PLACENTÁRIO (TTSP)

São tumores originados dos trofoblastos intermediários, que compõem o trofoblasto do sítio placentário e o sítio placentário residual (nódulo do sítio de implantação) após a gravidez.
Os TTSP constituem menos de 2% das neoplasias trofoblásticas gestacionais. São compostos por células poligonais que invadem o endométrio. Condições predisponentes são: gravidez normal (50%), abortamento espontâneo (15%) e mola hidatiforme (20%).

Figura 10 - Aspecto macroscópico de um TTSP. Fonte: http://www.pathconsultddx.com/pathCon/diagnosis?pii=S1559-8675%2806%2970463-6

Figura 10 - Aspecto microscópico de um TTSP. Fonte: http://www.pathconsultddx.com/pathCon/diagnosis?pii=S1559-8675%2806%2970463-6


PROGNÓSTICO

Em geral, o prognóstico desses tumores é bom já que respondem bem à quimioterapia, exceto nos casos avançados e com múltiplas metástases, o que indica um prognóstico muitas vezes fatal.

REFERÊNCIAS
1. Robbins & Cotran. Patologia: Bases Patológicas das Doenças. 2005. Editora Elsevier.
2. http://centrontg.org/informacionpacientes/pac2.html
3. http://library.med.utah.edu/WebPath/PLACHTML/PLAC067.html
4. http://pathologyoutlines.com/placenta.html
5. http://www.paully.co.uk/hmole-chorio/site/medics_information_histopathology.html
6. http://museum.med.monash.edu.au/spec/index.cfm?spec=S3U3
7. http://www.pathconsultddx.com/pathCon/diagnosis?pii=S1559-8675%2806%2970463-6

Bruno Roberto da Silva Ferreira
Acadêmico de Medicina - UFC
Liga de Patologia